14 de maio de 2007

!!!

Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Um coração que, na realidade está pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em cultivar sonhos e alimentar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu e tão bem cantou: "Não quero dinheiro, quero amor sincero, é isso que eu espero"
Um idealista..Um verdadeiro sonhador.
Um coração que nunca aprende, que não endurece e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato, que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra , que briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e as vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este mesmo coração tantas vezes incompreendido,tantas vezes provocado, tantas vezes impulsivo.
Este desiquilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá para engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar meu rosto.
Um coração que gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado, apenas indicado para quem quer viver intensamente e contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer: "Pode conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento, Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer."
Um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente por ainda se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder seu estilo e sua verdadeira identidade.
Um simples coração humano.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar.
Um vez ou outra constrange o corpo que domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

(Clarice Lispector)